quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Amor em estado dúbio!

As suas virtudes e predicados são inegáveis. Porém, inegáveis são igualmente os seus defeitos. O amor não é perfeito, nada o é! Diversas e indignas são as manifestações de poder da outra face da moeda.
Um das principais causas para a "deformação" do sentimento amoroso, é o ciúme. Uma reacção de carácter instintivo baseada na falta de confiança no outro elemento da relação ou mesmo em si próprio, justificada pelo temor relativo a uma perceptível ameaça exterior ao bem-estar e ao valor do elo criado.
Não coloco de parte a presença de um ciúme agradável e até necessário no seio de um casal, no sentido em que relembra a ambos os intervenientes na relação de que um não deve considerar o outro como um dado adquirido. Um ciúme moderado e consciente permite uma valorização do parceiro e, deste modo, estimula a paixão e o desejo mútuo.
No momento em que este "estímulo" pende para um lado mais irracional, as emoções tornam-se desproporcionais e a razão é desfocada. A obsessão e a insegurança contaminam a relação. Um dos elementos torna-se possessivo e exigente para com o outro, criando entraves à sua liberdade de movimentos. No pior dos cenários, esta paranóia reflecte-se em violência, colocando o amor e o interesse mútuo para segundo plano.
Com a intenção de completar este quadro, considero adequado recorrer a uma expressão do escritor e ensaísta francês Michel de Montaigne, onde se pode ler:
"De todas as enfermidades que acometem o espírito, o ciúme é aquela à qual tudo serve de alimento e nada serve de remédio."

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Amor em estado puro!

"Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te."

                                                                                                     William Shakespeare

Uma expressão marcante e plena de sentido, que me levou a reflectir sobre um sentimento que lhe é inerente, o amor. O que é o amor? Sobre que bases se constrói? É possível defini-lo?
De acordo com Platão, o amor é o desejo de algo que não possuímos. Um estado de espírito superior fomentado nas virtudes e na pureza da relação afectuosa entre duas pessoas, desprovido de interesses sexuais. O amante busca a plenitude da alma, busca suprir uma carência interior através do/a seu/sua amado/a e, desta forma, tornar-se um ser completo. O conceito de "amor platónico" - um amor inatingível, que apenas tem expressão nos nossos desejos e ideais - contrasta com a verdadeira definição de amor na filosofia de Platão, visto não ser interpretado como uma fantasia, mas sim como uma realidade fundamental passível de ser alcançada.
Este sentimento magnânimo é, na sua génese, abstracto. Sem forma, cor ou textura, o amor é, segundo Mahatma Gandhi, "a força mais subtil do mundo". É universalmente representado como um elo de ligação entre dois seres onde o desejo recíproco dominante é encontrar na felicidade de outrem, a própria felicidade. Carinho, dedicação, lealdade, amizade e afecto são algumas das expressões emocionais inerentes ao amor e que o elevam a um ponto de equilíbrio entre o corpo e a mente.
Um alicerce para um sadio estado interior, o amor expõe-se através das mais diversas faces sociais e pessoais: é visível num plano paternal ou maternal, sob a forma de um Deus (fé), num nível mais irracional, entre casais, entre amigos ou irmãos, para com um animal, num estado de amor-próprio. Um quadro de exemplos extenso que sustenta a pertinência em afirmar que o amor sob várias interpretações, não é interpretável.