quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Conhecimento Mudo!

"Conhece-te a ti mesmo!"
                          
                         Sócrates

Uma expressão plena de uma complexa simplicidade. Exibe traços de uma dissimulada inocência. Será pertinente afirmar que possuímos um conhecimento real sobre outrem, quando o conhecimento próprio é uma obra inacabada?
É de uma extrema comodidade tecer comentários nocivos sobre alguém que não nós próprios. Eleva-nos acima de uma idiossincrasia plena de defeitos que, por mero conforto, é assumida como algo que nos é alheio. Considero errónea a ideia de que nos devemos moldar por juízos exteriores, tendo em conta a imperfeição inerente a toda e qualquer personalidade. Reconheço a manifesta relevância de um constante crescimento interior, no entanto, este deve ser sustentado por um verdadeiro conhecimento pessoal, pois "poucos são aqueles que vêem com os seus próprios olhos e sentem com os seus próprios corações".
Nunca é demasiado tarde para sermos aquilo que devíamos ter sido. É primário lutar pelo que queremos ou desejamos, por necessidade ou capricho, altruísmo ou mera vaidade, com a ambição de nos sentirmos completos. Não alimento o cliché de um inequívoco êxito inerente a uma genuína vontade, porém o ensaio já é por si só o espelho de um carácter. Aliado à construção de um perfil, está o agridoce sabor do inesperado, recorrendo a Antoine de Saint Exupery - "Um único evento pode despertar dentro de nós um estranho totalmente desconhecido!"

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Um sorriso... fica-te bem!

"Desperdiçamos o dia em que não nos rimos pelo menos uma vez"

                                                                               Nicolas Chamfort

Despido de falsas modestias, afirmo que esta podia ter sido uma expressão por mim criada. Considero-a parte integrante da minha filosofia de vida, apesar da inevitabilidade dos dias desperdiçados.
Tirar partido dos pequenos pedaços de felicidade diários. Discernir a sua inevitável presença, descorar da sua ocasional brevidade em função do seu valor simbólico. "Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinhos...", e porque não sorrir por saber que os espinhos têm rosas? Apesar dos dias que se revelam não mais do que noites carregadas, vale a pena sorrir, para que irrompam estrelas na escuridão.
Reconheço, abraçado a uma inconsciente sobriedade, a impossibilidade de uma vida perfeita, plena de sorrisos, embora me agrade a imagem de tal ilusão. Sei que nem sempre a riqueza de espírito se reflecte nos momentos de infortúnio. Nem sempre a mais bela das palavras nos agrada, ou o mais profundo dos olhares tem uma alma por ler, por vezes o mais doce dos beijos nos amarga, nem sempre a mais terna carícia tem uma face a percorrer.
Uma realidade irrefutável, no entanto, breve e singular. É primário reconhecer a sua insignificância, rir-mos de nós próprios, gostarmos de quem somos por quem somos, saborear a mais ínfima porção de beleza. "Só os grandes homens têm a noção exacta da sua pequenez!" - Charles Delessert. A vida ganha um outro sentido quando o amor-próprio é parte integrante da nossa personalidade, os dias desperdiçados perdem relevo e o sorriso... revela-se.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Em altruísta harmonia!

"Repreende um amigo em segredo e elogia-o em público!"

                                                           Leonardo da Vinci

Uma expressão que conheço há muito tempo e com a qual muito me identifico. Plena de significado, tento segui-la, nem sempre o consigo. Certo é que me deixou a reflectir.
A amizade, em sentido lato, pode ser interpretada como uma relação afectiva, isenta de características romântico-sexuais. Um laço pleno de lealdade e conhecimento mútuo. Num plano mais pessoal, considero a amizade algo mais do que uma mera relação emocional. E antes de tudo o resto, defendo que o único modo de ter um amigo é ser-se um.
Um verdadeiro amigo é um alicerce fundamental para um sadio estado de alma. A construção cívica e pessoal do homem está intimamente ligada com as amizades que cria e, acima de tudo, com as que preserva. Neste contexto, partilho da feliz expressão do poeta francês François Fenelon, "Se queres formar um juízo acerca de um homem, vê quem são os seus amigos!"
Considero que um amigo é aquele que mais do que ouvir as minhas palavras, ouve os meus silêncios. Conhece todos os meus erros e defeitos e, ainda assim, me quer bem. A robustez de uma amizade reside no respeito pelas diferenças e não apenas no regozijo pelas semelhanças. Um amigo é, de acordo com o filósofo francês Jean Rostand, "a pessoa a quem se dá mais crédito quando fala mal de nós!".
Os momentos tristes e infelizes inerentes à nossa curta existência partilham e confluem em si algo de muito bom, a descoberta dos reais amigos. É na adversidade que criamos os bons amigos e é na prosperidade que desfrutamos deles. Quando somos reconhecidos pelo sucesso, o apoio alastra-se por todas as vozes. Quando cometemos um erro crasso, apenas o eco dos verdadeiros amigos se faz ouvir. "O falso amigo é como a sombra, só está presente enquanto o sol brilha!" 

quinta-feira, 31 de março de 2011

Tão óbvio e tão inesperado!

" Não há nada mais estranho e mais melindroso do que a relação entre pessoas que apenas se conhecem de vista, que diariamente e a toda a hora se encontram, se observam e que, por questões sociais ou mero capricho, são obrigadas a manter a aparência de mútua indiferença. Entre elas reina a inquietação e a curiosidade tensa, a histeria de uma necessidade de troca insatisfeita e artificialmente reprimida e também uma espécie de consideração constrangida. Pois o homem ama e venera o seu próximo, quando não pode julgá-lo; o desejo é uma criação do conhecimento insuficiente."

                                                                                                   Thomas Mann

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Um mero reconhecimento!

"Observa o teu culto à família e cumpre os teus deveres para com o teu pai, tua mãe e todos os teus parentes. Educa as crianças e não precisarás de castigar os homens."

                                                                                                                    Pitágoras

Sustentado por esta expressão, decidi desviar-me da habitual e confortável posição à superfície de qualquer tema, aliar-me ás palavras e integrar-me neste texto.
Recentemente, após uma conversa comum entre amigos, apercebi-me um pouco da minha ausência emocional para com a minha família, os vários aspectos a melhorar, laços por fortalecer ou um intríseco orgulho por quebrar. Poderia, certamente, partilhar mais sobre mim aos meus, expor o meu estado de espírito ou alhear-me de uma noção de independência, provavelmente, demasiado vincada.
Afirmo orgulhosamente que os meus pais proporcionaram-me uma educação muito liberal, isenta de regras disfuncionais ou escolhas forçadas. Sensatez e honestidade são palavras que os definem. Ensinaram-me a distinguir o bem e o mal, o certo e o errado e, acima de tudo, ensinaram-me a decidir por mim mesmo. Afinal, "o que é uma família senão o mais admirável dos governos!" - Henri Lacordaire. Sei que tive mais do que precisava, reconheço tal sorte, pois são muitos aqueles que não têm uma família, ou que a têm "descaracterizada".
Considero que uma consistente base familiar é um ponto de extrema importância na nossa construção enquanto seres humanos, porém, não é exclusivo. Certamente, homens e mulheres de grande carácter e intelecto foram, são e serão criados sem um suporte familiar, sem um rosto com o qual se possam identificar.
Em suma, este breve texto não é uma análise, uma critica ou um qualquer pensamento. É apenas e só um reconhecimento da fortuna pessoal que possuo e uma expressão do orgulho que sinto pela mesma.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Um olhar sobre o vazio!

"Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugná-la-íamos, se a tivéssemos. O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito."

                                                                                                       Fernando Pessoa

A perfeição, a desumana perfeição. Uma busca inglória. Um ideal desprovido de qualquer defeito, que reúne todas as qualidades. A plenitude, à qual nada pode ser adicionado ou retirado. Será?
A perfeição não existe. Se existisse, não seria perfeita, seria monótona. A ausência de algo tão primário como um erro ou um vício tornaria um Homem numa mera regularidade de processos ocos e atitudes pré-concebidas. Num plano onde tudo é relativo, onde o certo e o errado, o bem e o mal são apenas uma questão de ponto de vista, a perfeição ergueria um vazio, onde os contrários se anulariam.
Se o Homem fosse perfeito, a invenção de Deus teria sido inócua, sem qualquer tipo de relevo social. Não seria necessário o recurso a uma entidade superior para justificar e suprir os erros do Homem, no sentido em que este não cometeria erro algum. Algo de extrema inutilidade seria esta criação baseada na imagem humana, alimentando-se das suas imperfeições, com o intuito de explicar o que, presumivelmente, seria inexplicável. O Homem perfeito não precisaria de Deus, seria Deus. Possuiria o conhecimento absoluto e o inexplicável não teria qualquer expressão.
Considero a perfeição inalcançável e incompleta, no entanto, deve ser necessariamente cobiçada. Deve ser desejada e não temida, até porque nunca vai ser atingida.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Amor em estado dúbio!

As suas virtudes e predicados são inegáveis. Porém, inegáveis são igualmente os seus defeitos. O amor não é perfeito, nada o é! Diversas e indignas são as manifestações de poder da outra face da moeda.
Um das principais causas para a "deformação" do sentimento amoroso, é o ciúme. Uma reacção de carácter instintivo baseada na falta de confiança no outro elemento da relação ou mesmo em si próprio, justificada pelo temor relativo a uma perceptível ameaça exterior ao bem-estar e ao valor do elo criado.
Não coloco de parte a presença de um ciúme agradável e até necessário no seio de um casal, no sentido em que relembra a ambos os intervenientes na relação de que um não deve considerar o outro como um dado adquirido. Um ciúme moderado e consciente permite uma valorização do parceiro e, deste modo, estimula a paixão e o desejo mútuo.
No momento em que este "estímulo" pende para um lado mais irracional, as emoções tornam-se desproporcionais e a razão é desfocada. A obsessão e a insegurança contaminam a relação. Um dos elementos torna-se possessivo e exigente para com o outro, criando entraves à sua liberdade de movimentos. No pior dos cenários, esta paranóia reflecte-se em violência, colocando o amor e o interesse mútuo para segundo plano.
Com a intenção de completar este quadro, considero adequado recorrer a uma expressão do escritor e ensaísta francês Michel de Montaigne, onde se pode ler:
"De todas as enfermidades que acometem o espírito, o ciúme é aquela à qual tudo serve de alimento e nada serve de remédio."

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Amor em estado puro!

"Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te."

                                                                                                     William Shakespeare

Uma expressão marcante e plena de sentido, que me levou a reflectir sobre um sentimento que lhe é inerente, o amor. O que é o amor? Sobre que bases se constrói? É possível defini-lo?
De acordo com Platão, o amor é o desejo de algo que não possuímos. Um estado de espírito superior fomentado nas virtudes e na pureza da relação afectuosa entre duas pessoas, desprovido de interesses sexuais. O amante busca a plenitude da alma, busca suprir uma carência interior através do/a seu/sua amado/a e, desta forma, tornar-se um ser completo. O conceito de "amor platónico" - um amor inatingível, que apenas tem expressão nos nossos desejos e ideais - contrasta com a verdadeira definição de amor na filosofia de Platão, visto não ser interpretado como uma fantasia, mas sim como uma realidade fundamental passível de ser alcançada.
Este sentimento magnânimo é, na sua génese, abstracto. Sem forma, cor ou textura, o amor é, segundo Mahatma Gandhi, "a força mais subtil do mundo". É universalmente representado como um elo de ligação entre dois seres onde o desejo recíproco dominante é encontrar na felicidade de outrem, a própria felicidade. Carinho, dedicação, lealdade, amizade e afecto são algumas das expressões emocionais inerentes ao amor e que o elevam a um ponto de equilíbrio entre o corpo e a mente.
Um alicerce para um sadio estado interior, o amor expõe-se através das mais diversas faces sociais e pessoais: é visível num plano paternal ou maternal, sob a forma de um Deus (fé), num nível mais irracional, entre casais, entre amigos ou irmãos, para com um animal, num estado de amor-próprio. Um quadro de exemplos extenso que sustenta a pertinência em afirmar que o amor sob várias interpretações, não é interpretável.