sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Um olhar sobre o vazio!

"Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugná-la-íamos, se a tivéssemos. O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito."

                                                                                                       Fernando Pessoa

A perfeição, a desumana perfeição. Uma busca inglória. Um ideal desprovido de qualquer defeito, que reúne todas as qualidades. A plenitude, à qual nada pode ser adicionado ou retirado. Será?
A perfeição não existe. Se existisse, não seria perfeita, seria monótona. A ausência de algo tão primário como um erro ou um vício tornaria um Homem numa mera regularidade de processos ocos e atitudes pré-concebidas. Num plano onde tudo é relativo, onde o certo e o errado, o bem e o mal são apenas uma questão de ponto de vista, a perfeição ergueria um vazio, onde os contrários se anulariam.
Se o Homem fosse perfeito, a invenção de Deus teria sido inócua, sem qualquer tipo de relevo social. Não seria necessário o recurso a uma entidade superior para justificar e suprir os erros do Homem, no sentido em que este não cometeria erro algum. Algo de extrema inutilidade seria esta criação baseada na imagem humana, alimentando-se das suas imperfeições, com o intuito de explicar o que, presumivelmente, seria inexplicável. O Homem perfeito não precisaria de Deus, seria Deus. Possuiria o conhecimento absoluto e o inexplicável não teria qualquer expressão.
Considero a perfeição inalcançável e incompleta, no entanto, deve ser necessariamente cobiçada. Deve ser desejada e não temida, até porque nunca vai ser atingida.

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